A lua está quebrada


e o céu está rachado


Suba para dentro da CASA

12/30/2008

Trilogia Rain Dogs / Anywhere I lay my Head

Rain_Dogs_



Anywhere I lay my head


1


Minha cabeça gira sem parar

Eu tenho meu coração dentro dos sapatos [1]

Eu sentei e ateei fogo no rio Tamisa [2]

Agora eu tenho que descer

2


Ela está rindo de dentro da manga da camisa
Caras, eu posso sentir em meus ossos.

Oh mas em qualquer lugar, qualquer lugar aonde eu deite minha cabeça

Eu vou chamar de casa.

3

Bem, eu vejo que o mundo está de cabeça pra baixo
Parece que os meus bolsos foram enchidos de ouro
E as nuvens cobriram tudo.
E o vento está soprando, gelado


4



Bem, eu não preciso de ninguém mais

Por que aprendi, eu aprendi a ficar sozinho. E eu digo:

Em qualquer lugar, qualquer lugar, qualquer lugar aonde eu repouse minha cabeça...
Eu vou, enfim, estar em casa.



(dança do final)

observações de Victor Galdino:
[1] - expressão para: "estou com muito medo"
[2]- fazer algo grandioso; Tamisa (Thames) é um rio da Inglaterra - quer dizer, o cara coloca fogo num rio.

0

A voz: caótica, rouca, com variações indescritíveis de volume e tom, é a interpretação perfeita para o bêbado existencial que descobre sua autenticidade na relação à distancia com a Casa. É um fim realmente emocionante para o album. Tive que escutá-lo na íntegra mais uma vez para poder ouvir a música.

1

O Rain Dog bebeu demais e "quase" perdeu a consciência. Ele sabe que precisa ficar sóbrio. A Casa fictícia trazida pelo álcool está começando a evaporar. Ele precisa descer do sonho.

2

Ler o 4.

3

O mundo está de cabeça pra baixo, está invertido, insano, perdeu seu sentido, é claro, só assim para haver ouro no bolso de um Rain Dog. Mas não é só isso. Não há ouro de verdade nos bolsos dele, mas é como se fosse. Se houvesse ouro no bolso de alguém, possivelmente ele estaria feliz. Ouro não há, mas há essa felicidade. E para isso, para este sentimento, não foi necessário ouro, nem sol, nem um vento quente e amenizador.

4

O Rain Dog aprendeu que a Casa é uma instituição individual. Ele não precisa de ninguém para estar em casa. Mas ele não está na Casa. O refrão diz que em qualquer lugar aonde ele repousar, ele vai estar em casa. Quer dizer, fora de casa, como sempre, mas em um estado de paz. Em qualquer lugar ele está em casa, quer dizer, ele não tem uma casa, a casa dele é tudo o que ele deita, a casa é ele mesmo. O sentido metafísico disso é um só: a casa transcende todos os entes do mundo. Não depende de espaço e tempo (no sentido da Física) para dormir em casa, na Casa, para se sentir em Casa,quer dizer, ter a estabilidade deseja do eu e a supressão do desespero de não ter casa. Não é um sentimento de total completude. "Rain Dogs" não foi o último álbum de Waits. Mas sabe-se, aqui, ao menos, algo que não se sabia antes. Foi aprendido algo, que é a condição individual que a Casa exige. O Rain Dog que vive enchendo a cara com as pessoas que ele conhece pelas ruas descobre na solidão do repouso (deitar a cabeça) a oportunidade de se comunicar com esse espaço talvez sagrado, talvez transcendental, da Casa. Ele se comunica com a Casa, assume sua condição, torna sua expressão mais autêntica, mais singular, a análise existencial subjetiva e volta a encher a cara e se divertir com os outros Rain Dogs. Mas ele sabe que não precisa disso para ser ele mesmo. Ele pode "morrer" para o mundo, para o "outro" e assim fazer as contas e ver o que sobrou disso. O que sobra é o Ser.


Apêndice: Scarlett Johansson



Eu me surpreendi quando soube que ela havia feito um album só com músicas do Tom Waits (excetuando uma, que se não me engano é dela). O álbum dela tem um conceito bem diferente do de "Rain Dogs". "Anywhere..." é a única música do RainDogs presente.



A Abertura com "Fawn", uma música instrumental de "Alice", de 2002, foi pra mim a melhor música do disco. Tudo muito alto, muitos instrumentos, tão alto e ao mesmo tempo que tudo se perde. No meio da faixa, tudo parece desconexo. Um efeito impressionante.



Alguns contrastes: A capa de Johansson mostra a moça deitada, muita calma, em uma floresta, algo bem tranquilo. Talvez até algo como a morte... "Who are you" trata do suicídio e "I don't wanna grow up" só pelo título já revela seu carater fatalista. Enfim... A capa do disco de Tom Waits mostra um outro repouso, não tranquilo, mas caótico, bêbado, deficiente. O choro, o riso, a loucura... Bem diferente da serenidade de Johansson. "Anywhere i lay my head" é uma música sobre uma grande mudança, um aprendizado, algo que radicalmente coloca o indivíduo em correspondencia consigo mesmo. Johansson fez disso seu mote, mas de uma maneira diferente. No disco dela, a serenidade é próxima a calmaria da morte. Realmente,mas transcendental e definitiva que a conclusão de "Rain Dogs". Mas notemos que a maioria das canções do disco dela são de albuns recentes de Tom Waits, após Rain Dogs. O carater é muito mais transcendental, no sentido da fatídica "Come on up to the House", que em "Rain Dogs".



Na canção, Waits canta com loucura, extase, paixão. Johansson, uma cantora sem muita habilidade, procura fazer exatamente aquilo que Waits procura não fazer na sua gravação: somente cantar com regularidade, no tom. Sua voz é meio morna, sem nada de muito elevado, e isso a torna um experimento interessante.



Isso me leva a outro ponto. No filme "Vicky Cristina Barcelona" Johansson interpreta uma moça que sempre está tentando fazer algo de carater artístico, sem nunca obter algo de muita qualidade. Ela não tem "talento" para nada. Seu mote é : "Eu não sei o que quero mas sei o que não quero". Acho que Scarlett Johansson é essa mulher. Woddy Allen talvez seja o único que a entendeu. O papel dela em "Match Point" também é o de uma mulher que está "no meio", ela não está resolvida, ela não sabe muito bem onde está e o que esperam dela. Acho que a serenidade do seu album de estreia é isso: tal qual o Rain Dog, Johansson está no entre, em um limite. Holywood não é sua Casa. Ela superou seu "mundo", se pos a caminho de uma outra resolução, um outro destino, que se dá pela questão coloca-da em "Anywhere I Lay my Head".


12/18/2008

Trilogia Rain Dogs / Rain Dogs

Rain_Dogs_



Dentro de um relógio quebrado


Espirrando o vinho... Com todos esses Cachorros da chuva
Táxi... Preferimos ir a pé.


Acotovelar-se em um porto com esse cães
Sou um cachorro da chuva também!



Ah.. como dançamos e engolimos a noite!

Tudo foi muito maduro para um sonho
Ah, como dançamos



Todas as luzes


Nós sempre perdemos a consciência.



O Rum derramado, forte e magro




Expulse o gari daqui



Com os cachorros da chuva



Á bordo de um comboio naufrágo


Dê o meu guarda-chuva para um dos cachorros


Ah, como nós dançamos com a Rose de Tralee



Seus longos cabelos, negros como um corvo



Ah, como nós dançamos.. E então você me sussurou:



"Você nunca vai voltar para a Casa".







- Entrevista e confete na cabeça, cantando "Tango till the're sore"

http://www.youtube.com/watch?v=fKSIDg_cn8I

- Show

http://www.youtube.com/watch?v=qVaEPx_VyXs&feature=related



1


Cachorro da Chuva. Para ser bem direto, o Rain Dog de Waits, que vou manter a maior parte do tempo no termo original do ingles, é o oposto ao "Palluka" de que Waits fala em algumas músicas. No último post deixei clara a posição anti-niilista de Waits, mas tenho que admitir que não há pior termo. Eu fui bem Nietzschiano e não queria ter sido, e agora por me ressentir com isso caminho no caminho certo. Lembrar: no primeiro post, "Come on up to the house" eu fui, nos comentários, respondendo a um discreto e amável anônimo, contrário a tal afirmação aristocrática (trágica) da vida. Inclusive alimentei a boa idéia do ressentimento. E é isso que quero retomar.



2



Rain Dog x Palluka. Esqueçam o niilista. O Rain Dog tem seus ressentimentos e os mantém. Ele é fraco e se esconde na bebida, nos cigarros, no que tiver. A dor é muito grande para um homem contê-la sozinho, e mais ainda para que possa afirmá-la depois que ela se for. Não existem superhomens. Existem Pallukas e Cachorros da chuva entre aqueles que não estão na Casa, ou melhor, entre aqueles que estão no Limiete, na beira, na marginalidade. Ambos são doentes da vida. Talvez doentes de tanta vida, eles são boêmios e vagabundos, são vadios, cães sem muito para gastar nas altas apostas que fazem. Os Cachorros da Chuva tem confete na cabeça. Eles se divertem juntos e honram as pessoas com quem estão. Eles se juntam nos grandes temporais e bebem e enlouquecem juntos. Por que? Por que assim podem chegar mais perto da Casa, de uma familiaridade com as coisas e, principalmente, uma familiaridade com o ente que corresponde ao seu ser, o outro. O Palluka se isola em sua dor, e morre sozinho. A força, em Tom Waits, que mede fracos e fortes, é a distancia da Casa. É uma casa não-física, uma casa metafísica. A familiaridade é a própria Casa, a felicidade e o lidar sem angústia são caracteres desta Casa como modo de ser. A força, assim, fez de uns fracos, os Pallukas, desorientados da Casa por se isolarem longe de qualquer comum-unidade, e uns fortes, os Rain Dogs.

3



No post passado eu disse: os que estão fora da casa ou estão sóbrios ou bêbados. os Rain Dogs se mantém entre esses dois estados, seja apaziguando temporariamente a dor para conseguir perpetuar a existencia e assim persistir a busca pela Casa (bêbados) ou buscando efetivamente a Casa e sofrendo enquanto isso (sóbrio). Os Pallukas ou estao muito bêbados ou estão sóbrios, eles não transitam direito entre um lado ou outro. Assim, aquele mamado que fica maluco e fala sozinho 24 horas por dia é um maldito Palluka. De mesmo modo, o mendigo cristão que cisma em não beber e vive se lamuriando, carrancudo e desdenhoso, este é um Palluka do mesmo modo.

4



Rain Dogs e Pallukas não são raças ou espécies: são modos de ser, as coisas aqui são sempre modos de ser. Sendo assim, estar levando bem a sua condição é ser um Rain Dog. Estar levando mal é ser um Palluka. Não há maniqueísmo,desta forma.



5



Todo mundo quer a Casa, a sua casa. O Palluka está longe de consegui-la, longe exatamente por que ele quer a casa. Todo mundo quer a Casa. Ser Palluka é ruim por que é mais dificil conhecer a casa e alcança-la se vivemos nos lamuriando sem nada procurar, enquanto sóbrios, por que a dor de estar sóbrio nos nubla a consciencia, ou por que vivemos em uma casa falsa, se bêbados, e nossa felicidade se esgota facilmente.



6


Nos concentremos principalmente no conceito de Rain Dog, agora.

"Ah, como dançamos e engolimos a noite!"

O ato de dançar é muito importante. Nietzsche não acreditaria em um Deus que não fosse dançarino.




7

Analisemos um fragmentos de fragmento de Pascal (133, de seus "Pensamentos"), traduzido pelo controverso Pietro Nasseti:

"O Homem é visivelmente feito para pensar. (...)Ora, a ordem do pensamento é começar por si, pelo seu autor e seu fim [sua finalidade]. Pois bem:em que pensa o mundo? Nunca em tais coisas, mas em dançar, em tocar alaúde, em cantar, em fazer versos, em viajar, em tornar-se rei sem cogitar do que significa ser rei e do que significa ser homem."

De uma sagacidade incrível. Pascal era um filósofo das coisas mais medíocres, das questões superficiais e da artificialide. A imaginação, com papel fundamental na condição humana, é o instrumento essencial do homem decifrar o mundo. Seja pela grandeza ou pela pequenez, pela distancia ou proximidade, a percepção humana somente pode lhe dar com o "entre" que se aparece por entre esses extremos, o tudo e o nada. Esse entre é o ser. É aquilo que é. E o ser é miserável, é corrupto e caduco, incapaz de lhe dar com a verdade das coisas, sempre em movimento, em errância, passando de ente à ente, sem se deter, nem querer se deter, em um repouso. Dos tópicos sobre o "divertimento" dos Pensamentos de Pascal foi que tirei este fragmento. Ele serve para dar uma visão interessante, não obstante externa, do que seria o tédio e o cotidiano da condição humana. Sem as distrações, sem a errância que obstrui a análise existencial e a reflexão do sujeito sobre si, a condição humana é jogada na percepção de toda a total falta de sentido de sua existência. O divertimento, a dança, aquilo que nos faz não pensar no infinito fechar-se do mundo enquanto abismo e no absurdo da imaginação que cria nossos heróis, nossos dogmas, nossas cismas, hábitos, costumes, toda a segurança abstrata que nos faz agir, e não chorar. Persistir e não findar. Talvez possa, e seja, um elogio a alienação. Prefiro pensar como a perspicaz noção de que o senso comum não é um instancia separada, inferior, superada, da filosofia e da reflexão racional, mas, sim, que o lidar do ser com o mundo é sempre através desta instância que sempre se relaciona. Nenhuma elocubração abstrata da razão persiste durante mais que um limite de tempo. O limite que o corpo, a vida, a existencia deste pensador suporta. A diversão está sempre balanceia esta reflexão que, como dizia Deleuze, entristece. Mas não apenas balanceia. Não há um momento em que um homem é outro, em que apaga o que foi divertido e adentra na metafísica: a metafísica brota da diversão, e a diversão não é um fazer irracional pura e simplesmente, pelo contrário, por vezes carrega coisas deste outro modo do homem lidar com o mundo. De fato, a dicotomia é totalmente obtusa: estão univocadamente juntas, o pensamento que entristece (o sóbrio que quer a Casa por que não a tem) e o divertimento que enobrece (o ébrio que se sente em casa quando se esquece que não tem a Casa). Mas aqui já abandono Pascal.


8

"Tudo era muito maduro para ser um sonho"


Essa é a condição do Rain Dog: o contato direto com o real. Com "maturidade" Waits quer dizer que o real já aconteceu , que qualquer compreensão do entendimento reflexivo é tardia.O real é maduro, com isso não quer dizer que seja velho, mas que está, sempre, no estado perfeito para ser o que é, que ele sempre é o que é, e já está sendo, e qualquer caminho que a linguagem seguir será relacionado a está imediata realidade. Mesmo o mais teórico, imparcial, o mais imaginário, "sonhador" devaneio que possa ser feito na linguagem, é, por ser "é", claro, real, e tocado pela realidade, e relacional.

9

Então... no fim da música, uma pessoa (uma moçinha fogosa e bêbada em uma acepção otimista, um mouro bronzeado em uma acepção pessimista) sussura no meio da dança (que já abordamos conceitualmente aqui) que

"Você nunca vai voltar pra (C)casa."

Em vez de eu dar estar respostas malfeitas e imediatas, vamos analisar as possibilidades:

1) Ela é uma vadia que quer tornar os homens em Pallukas de merda.

2) Ela é santa, como todas as mulheres que te levam pra Casa, e a negativa é simplesmente a afirmação de quê, na dança dos corpos e do mundo, você já está em casa. O Rain Dog está em Casa.

Claro que nós ficamos com a dois.

10

Por fim: podemos notar que aqui há, nesta canção, o conceito central do Rain Dog, o Cachorro da Chuva, o personagem que Tom Waits quer descrever ao longo de toda a sua obra e que dá o tom, o fio condutor e a estrutura toda deste albúm de 85. Em "Singapore", a tradução anterior, temos um grupo de Rain Dogs em um barco viajando para Cingapura. A capacidade / desejo / destino de buscar a Casa é o que faz o barco ser a Casa naquele momento. Esta capacidade é onde reside a autenticidade do Rain Dog, de tornar o mundo um instrumento para se alcançar a casa. É neste sentido que "Come on up to the House", de 99, expressa uma espécie de transcendência do mundo.


































(feliz ano novo, pallukas!)






12/16/2008

Trilogia Rain Dogs / Singapore




apresentação:



O disco de maior sucesso de tom waits, considerado por muitos o melhor dele e, ainda por cima, vencedor da enquete na comunidade do orkut. Enfim... Não é o meu preferido, nem o do Victor, nem o de ninguém que eu conheço, mas achei conveniente agradar a multidão (risos) e fazer, em três posts:




1) a tradução da primeira música, Singapore, explicando "aonde" se localiza Tom Waits em 1985, depois de andar pela música caipira e o jazz citadino, nos anos 70, e a chegada em uma cidade nova no disco de 83 (Swordfishtrombones)



2) a da faixa-título, Rain Dogs, explicitando qual o conceito de "Cachorro da chuva" para Waits e por que este conceito é o título do albúm, quer dizer, por que esta faixa reune e sintetiza todas as outras restantes em um conceito muito bem (espero) delimitado.



3) e a da fatídica última faixa, "Anywhere I Lay my Head", indicando, principalmente, por que ela finaliza o disco e por que Scarlett Johansson regravou ela em seu disco, além de dar o nome dessa música ao seu album.





Dfjanfsfaefesfgergtye4rhtkuyo87yl8l87l78l7











Singapore






Nós velejamos esta noite para Cingapura,

estamos tão loucos como os chapeleiros daqui.

me entreguei à um mouro bronzeado
Partindo pra terra de Nod
Me embedei com todos aqueles chineses
Andei nos esgotos de Paris
dancei junto a um vento de diversas cores
pendendo de uma corda de areia

Você me deve um "adeus".


Não vá dormir enquanto estiver em terra.
Trespasse seu coração e aguarde a morte
Quando ouvir o choro das crianças
Deixe que a medula óssea e o cutelo escolham
Enquanto fazem os pés para os sapatos infantis

Através do beco, de volta para o inferno
Quando você ouvir o sino do campanário
Você deve me dizer "tchau".
Limpe-o com gasolina! ( o barco)
Até seus braços ficarem fortes.
De agora em diante, rapazes, este barco é sua casa
Então... Hastiar vela, marujos!


Velejamos está noite para Cingapura
Peguem seus cobertores do chão
lavem suas bocas, por aquela porta ali!
A vila toda é feita de minério de ferro
Cada testemunha vira vapor.
Eles se tornam sonhos à italiana.
Encham os bolsos de terra
Arranjem um dolar furado
Para longe, rapazes
Adiante, marujos



Hastiar velas!



O capitão é um anão de um braço só
Ele está jogando dados em algum lugar no cais
Na terra dos cegos, o ciclope é rei
Por isso tome este anel. (!)



Velaremos de noite para Cingapura, estamos tão loucos como os chapeleiros daqui...


Porto de "Singapore":








"Que podemos aprender com tudo isso?"



Seria Tom Waits um dadaísta? Não me perguntem sobre aquele troço do cutelo. Esse música nem é muito boa... Mas a letra resume muita coisa, por incrível que pareça. Bêbados chineses, esgotos de Paris, um capitão patologicamente nanico e sem uma braço, metáforas sem sentido que terminam com a doação de um misterioso anel. Nada disso separado importa para nós, passaria por um simples circo de horrores ou um filme do Jodorowsky. O que importa é o conjunto, é realmente aquilo que pode tornar isso não uma simples miscelânia, mas o fio condutor, a pedra mestra do pensamento ébrio-marítimo de Waits.



O LUGAR


Já viram "O Atalante", de Vigo? Eu sempre penso naquele velho lobo do mar... Aquele velho das tatuagens. Enfim, aquilo que dá unidade ao texto:


"From now on boys this iron boat's your home . So, heave away, boys!"

Isso mesmo, o barco é a casa. (consultar o segundo post deste blog, "Come on Up to The House", para ver a noção de casa. Chequem os comentários dele também, mas , principalmente, leiam o apendice deste post, onde eu explico o conceito de Casa )


Com isso quero dizer, o barco é um cargueiro de ferro,Tom é o imediato e o capitão é aquele anão esquisito, os marujos são inexperientes, ninguém está seguro mas as oportunidades são constantes. Cingapura é a cidade das maravilhas miseráveis e aqui entramos no mundo de "Rain Dogs": a podridão dos becos multi-étinicos da Europa. Ocidente, oriente... não existe isso aqui. O tempo está sempre fechado, como em closing time, mas dessa vez Waits não está na América... A casa dele agora é um barco. Qualquer barco. A solidão e o lirismo do primeiro albúm são abandonados. E nos bares não há "closing time", eles sempre estão abertos, mas são piores, mais baixos que aqueles de beira da estrada, nos E.U.A. "Beira", alias, é uma boa palavra para entender Tom Waits. As coisas estão sempre na beirada, no limite, no meio fio, no traço-cisão (opa! espirito heideggeriano, desculpe). Antes foi a beira da estrada, a porta do bar(Closing Time - 1973)... depois, a calçada da rua, a sarjeta (The Heart of Saturday Night - 1974) , depois um lugar especial na sarjeta (Heartattack and vine - analogia ao nome de uma esquina em nova york, se não me engano - 1980), depois uma terra estrangeira, o submundo "underground" (Swordfishtrombones - 1983) e agora isto... o cais chuvoso de Cingapura. Não apenas Cingapura... mas com certeza tudo começa lá. Talvez o imediato não seja Waits... Talvez ele seja um dos marujos lutando para sobreviver. Com certeza, a casa de Waits é na "beirada", nesse limite. De acordo com uma interpretação da Rolling Stone, Rain Dogs é o encontro de um "lar" que foi procurado e não encontrado no album antecessor ( cuja ultima música se chama "RainBirds" - talvez predecessores dos Rain Dogs). A hípotese parece boa, se bem que, em minha modesta e fecunda opinião, a casa só vai ser encontrada mesmo em "Mule Variations", 14 anos depois. Mais uma vez, enfim... O barco poderia ser essa casa, e Waits parece mais "acostumado" com as coisas mesmo. Para mais (muito mais) informações ver o Apêndice no fim do post.


OS ITENS


Há bebida e cigarros em cada barco, cais, bordel, barraco em baixo da ponte... E esses itens só ocupam os lugares vazios. Porém, a metafísica de Tom Waits não permite que seja um vazio qualquer: É um vazio da alma. O lugar que estes itens ocupam é aquele que a família, o estado, as instituições, o passado, o tempo, o amor não puderam ocupar. Os dados que o capitão deformado jogam não indicam outra coisa se não: há diversão por aqui, e é praticamente só o que procuramos. Mas é mentira. o capitão procura a essência. Ele pode estar nos dados, quem sabe... Tom waits sabe que não pode achar a essencia pelo amor, pela verdade, pelo saber, pela beleza, pelo real, pelo fundamental... Então, diz ele, vamos procurar pela superfício, pelo artifício, pela maquiagem, pelo transitório, pelo passageiro, pelo infame, pelo inculto, pelo irregular, pelo sujo, o feio, o deformado... Neste sentido, é quase uma repetição de Baudelaire. Mas vamos mais longe: façamos boas melodias.


CASA


Então, Baudelaire... não vamos erguer comparações, seria feio. Vamos aproximar alguns gestos. Baudelaire seria cristão? Isso instiga questões faz tempo; em Tom waits, manteremos a questão do pecado original. Não sei se há esse pecado, mas já afirmei aqui que o Tom é, sobre certo aspecto, um ressentido. Com isso quero dizer: ele errou, mas o tempo não volta para consertar. Mas será que isso resulta necessariamente na culpa pela perda da Casa? Acho que não. A casa não se perdeu. Ela está e não está. Casa é quase um phatos. A casa é antes um "estar" do que um "onde". Ela é algo como o que sentimos quando somos crianças e quanto temos segurança, confiança em postulado metafísicos predicados na família . Waits passou por isso e quer retomar, mas não tem culpa pela passagem do tempo, e sabe disso. A procura pela casa não é ressentida, não é culposa, e não se assemelha ao pecado original cristão. Baudelaire nutre um ódio, se assim podemos chamar, pela natureza. Não há isso em Tom Waits, a natureza não tem culpa... A cidade é grande e algumas pessoas ficam de fora, é isso... Vamos falar dessas pessoas.


OS TIPOS


Rain Dogs está cheio de "tipos", por assim dizer: anão sem braço, prostituta perneta, chineses bêbados, marinheiros, uma Grande e Negra Maria, a garota de rua que masca chiclete... os próprios cachorros da chuva são um tipo, do qual falaremos em especial depois, um tipo que abarca todos estes, talvez. Tal qual Baudelaire, há aqui um privilégio da alteração do padrão normal das formas humanas, mas devemos investigar o porque disso. No poeta francês, a forma é uma idéia perfeita da alma, de-formada quando formada apartir "de" matéria. A matéria deforma, e todo o corpo imerso no devir da realidade é pecaminoso, é natural, é caduco.Puro platonismo, diriam alguns. Em Waits, a forma-padrão, ou a idéia eterna que une todas as formas particulares, se você preferir, é distante. Está é pra quem tem Tv-a-cabo em casa. Morando embaixo da ponte, você tem que se contentar com a puta mais barata, aquela que desconta o preço da noite pela perna perdida. Waits quer mostrar que não é tão ruim assim, ou melhor, é ruim, mas se você não aceitar isso não vai ter diversão, e diversão é importante para Tom Waits.

(A)POLÍTICA


É interessante notar que não há ( na minha interpretação, principalmente) qualquer viés político na analítica social de Waits. Isso é ótimo: viabiliza uma interpretação intimista e sincera, sem grandes juras ideológicas, grandes conglomerados super-estruturais para explicar as situações... Só há duas "classes" em tom waits: os que estão em casa e os que não estão. A diversos caminhos apartir daí, e o de waits, privilegia a não-casa para achar a casa. Por que? Aqui entra a personalidade de Waits: ele é um sujeito assim, há outros sujeitos assim, nessa interpretação, a maioria dos "grandes sujeitos" da humanidade foi assim, talvez seja o modo autentico do ser falar de si mesmo...Ou talvez seja merda da cabela desse descendente de irlandeses sujos.


APÊNDICE - MODOS DE SER e O TEMPO em TOM WAITS.


1) Modos de Ser

Podemos dizer que há dois modos de ser em Tom Waits:

Casa -

Fora de Casa

Na casa você está feliz, você tem tudo o que quer, quer dizer, você não questiona os valores que tem. Fora de casa você pode ter mais dois modos de ser:



Bêbado - Sóbrio



Se bêbado, você está se divertindo. Se sóbrio, você está pensando na casa que não tem. Waits não privilegia nenhum dos dois modos, ambos tem seu tempo na vida do homem. Bêbado você não coloca as questões, você se ocupa, mas de modo bastante fulgaz e vulgar (no sentido de medíocre, principalmente) e então você está em casa, mas é uma falsa casa, que vale apenas pelo momento. Porém, o homem precisa da Casa. . O Bêbado vive da ilusão, mas ele depende do Sóbrio, e por isso os que são cantados por Waits, os Fora-de-casa, estão sempre cambiando entre Sóbrio / Bêbado. Não conseguiriam ficar sóbrios o tempo inteiro, seria muito sofrimento para alguem sem Casa, sem nenhuma familiaridade com um mundo... mas não podem deixar de buscar a casa verdadeira, que é a essência do ser do homem, e que sempre se contrapõe a insegurança do homem impresso no tempo, e só podem buscar a casa quando conscientes de sua condição e tristes com ela, obviamente, ou seja, nao entretidos em alguma falsa familiaridade. A verdadeira familiaridade não é utópica. Tom está em casa, em Rain Dogs, ele conhece todos os bêbados e drogados, os deformados e párias, os conhece todos pelo nome, conhece o turbilhão da não-casa e se encara como poeta desta multidão de desabrigados. A casa verdadeira não quer dizer felicidade completa, ataraxia ou golconda: Casa é, antes e simplesmente, lugar. No caso de Waits e daqueles que falam verdadeiramente sobre o ser de um mundo este lugar é o modo de ser fora-de-casa. A Casa para eles é um sonho de segurança que abraça os pobres diabos nos momentos de maior tristeza e solidão. Por isso seu estar em casa é um outro modo de ser, o Fora-de-Casa que não é Sóbrio nem Bêbado - é a outra Casa, a Palavra. Em Rain Dogs, Tom está em Casa, sua casa é a palavra, sua casa é dizer sobre este mundo, é dar um mundo para aqueles que não tem nada certo. Porém, ele ainda não pode lhes dar seu destino, apenas pode dizê-los o que são, mas não o que querem. Isso, para mim, só será obtido em "Mule Variations" com "Come on up to the House". Pois bem... a Casa de Tom Waits é está em que a ontologia é feita. Será o lugar da arte e da filosofia como aqueles que nomeiam e localizam as coisas do mundo de forma criativa, quer dizer, de forma originária.

2) Tempo

É preciso fazer a ontologia destes modos (Casa / Fora-de casa/ Bêbado/ Sóbrio), para que não se percam no tempo, quer dizer, para que um não sobreponha o outro e uma pessoa não caia na ilusão (não esqueçamos que Waits é metafísico) de que está em um lugar quando não está. Para poder salvá-los do tempo, da perda no tempo, é preciso colocá-los no tempo. Como vimos no meu post "Time / Conceito de Tempo em Tom Waits", o tempo é aquilo a que o amor se dirige. Por via das dúvidas, podemos pensar:



1- existência = tempo



2- se amamos algo, podemos a) afirmá-lo no tempo ou b) afirmar o tempo neste algo, assim como se odiamos negamos no tempo ou negamos o tempo. Se você odeia você nega, por que você não quer que exista, ora, é ruim e você quer que isso acabe. Se ama, você quer que continue, que persista pela eternidade. Não é o sentido epistemológico, veja bem, afirmar não quer dizer constatar um existência, mas querer que algo exista. Assim, tudo o que é vivido, de alguma maneira, existe, Gostei de pensar assim, não sei se é Nietzscheano ou Shopenhauriano, mas condiz com o Waits.



3- Em a) o tempo já é aceito previamente na acepção de 1, quer dizer, ele existe e você é um idealista. Em b) o tempo é posto em questão em sua realidade a cada ente apresentado, e pode ser afirmado ou negado. Isso é interessante: o ente imediatamente posto define toda a realidade a cada vez. Quer dizer, se você afirma este ente, afirma toda a realidade. É como disse o trapezista engraçadinho de "A Estrada" de Fellini: "Se esta pedrinha não tiver um destino, então não tem nenhum sentido no mundo" ( ele não disse isso, mas o sentido é esse).



Em cada coisa você ama/ nega não a coisa, mas o tempo. Só que, o que é o tempo, que é tudo o que existe? É o devir, a passagem ininterrumpita, o persistir das coisas em serem elas mesmas, e ser é existir que é a própria temporalidade que é mudança permanente ou seja ser si mesmo é ser o não-ser do que é em direção à próxima transformação. Forma de novo, a forma sempre muda, sempre está formando-se novamente, no tempo. O discípulo de Heráclito, muito sábio mas pouco prático, só apontava pras coisas, sem dizer-lhes os nomes pois, citando Nietzsche, "toda a palavra é um prejuízo" e o que é "já era" (yo!). Pois bem... Waits quer falar, assim, que pôr em questão o tempo a cada ente é perguntar-se sobre qual o nova forma que este ente assumirá. Mas que isso: é desejar a nova forma dele, seja afirmando a antiga seja negando-a. Aqui está a grande questão! Pois se é afirmada, no amor, a existência de algo, quer dizer, se se requer a manutenção desta forma, então nega-se o tempo, a mudança constante, o rio em que sempre caimos da primeira vez. Se odiamos algo também não afirmamos o tempo, pois o tempo não destrói, ele muda. Porém, existe este postulado: amamos o tempo. Amamos inexoravelmente existir, quer dizer, queremos mudar, quer dizer, queremos viver, a vida persiste em viver em cada um de nós. Fora ou dentro de casa, o ser vivo vive e quer a vida. Viver é mudar aquilo que é, pois é sempre no tempo, ou melhor, é o próprio tempo manifesto. Então, eiso embate: manter-se o mesmo no entanto mudando. Assim: se amamos algo e queremos que ele persista contradizemos o tempo, se odiamos algo e queremos destruí-lo e queremos não odiar nunca mais, mas o tempo traz coisas que odiamos, e então contradizemos o tempo: porém o tempo é tudo o que é, como foi dito, e tudo o que é esta sempre se contradizendo. Assim, sempre afirmamos o tempo, afinal estamos sempre nele, não podemos negá-lo. E se o ódio é direcionado não há uma coisa, mas à existência, ao tempo? Aí somos niilistas de merda e queremos nos cortar no banheiro de casa ( mas não é A casa) e apodrecer como um pedaço de lombo na mesa de natal.



CONCLUSÃO



Do que eu estava falando mesmo?



CONCLUSÃO



Ah... sim.



Em Tom Waits, como amamos o tempo, o que queremos é viver. Mas o tempo é também a destruição da morte. Amamos a passagem do tempo, amamos o destino inexorável de todos os seres. uhu! Este mundo cor-de-rosa acaba rápido: o amor não tem nada de feliz (uma aula: "Anarcosambas", de Vinicius de Morais e Baden Powell). Amar é sofrer. Sofrer é padecer. Padecer é "ser tomado por". Você pode ceder ou pode lutar contra. Se contra, você é um niilista, um tecnólogo, um filho-da-puta fudido lutando para não se afogar estando nas profundezas do oceano. Se a favor, você é Tom waits. Espera aí...




(Ok: assim como Platão, eu só escrevi de brincadeira até hoje)




http://www.youtube.com/watch?v=nnBzDD_O1Fg




- One of those nights...
- Warm Beer, cold women!

11/29/2008

Blind Love

Agora você se foi e... hotéis, whisky e damas azaradas
[são tudo o que há]
e não me importo se sentem minha falta;
nunca lembro dos nomes deles
Dizem que se você vai muito longe, acaba no caminho de volta pra casa
bem, estou na estação... e não consigo pegar o trem

Deve ser um amor cego,
o único tipo de amor é o amor completamente cego

Agora a rua se torna depressiva
e os cachorros latem
e a noite chegou
E tem algumas lágrimas caindo de seus tristes olhos nesse momento
me pergunto onde você está e sussurro seu nome
mas o único modo de te encontrar é fechando os meus olhos

Com meu cego amor, irei te encontrar
o único tipo de amor é o completamente cego


... é o seu amor cego, o único amor é o completamente cego



-----------------------

http://www.youtube.com/watch?v=0jyVZNrWkow&feature=related
(sim, o vídeo é de outra música, e não estou nem aí)



------------------------


Talvez a única maneira de não ver sua ausência seja ficando completamente cego... mas, enquanto isso não acontece, fico com o whisky. De olhos fechados.

11/20/2008

Lonely

Só... Só... Só
Olhos solitários
Rosto solitário
Sozinho no seu canto

Só... Só... Só
Olhos solitários
Rosto Solitário
Só no seu lugar

Pensei que eu sabia tudo
o que devia saber
Só...Só... Só

Melanie Jane não sentirá a dor
Sozinha, sozinha, Olhos sós, sós...
Só em seu lugar.

E eu pensei que sabia tudo o que deveria saber
Só, só... com olhos solitários
Só, só em seu lugar e
eu ainda amo você
eu ainda amo você..
só, só.

10/24/2008

Time / Conceito de Tempo em Tom Waits

TIME













O dinheiro sagaz está em Harlow e a Lua está na rua.


E um bando de garotos ocultados pelas sombras
está burlando todas as regras.



Você está a esquerda de East Saint Louis...

O vento faz pequenos redemoinhos por onde passa

A chuva soa como os aplausos de uma platéia



Napoleão está chorando no Carnival Saloon, sua noiva invisível aparece com ele dentro do espelho.

A banda está deixando o palco.


É o martelar da chuva em pregos de chuva!

Sim, é verdade, Não há nada mais para ele aqui embaixo.



E é o tempo,tempo, tempo
Há o tempo, tempo, tempo
E o tempo, tempo, o tempo que você ama
É o tempo, tempo, tempo.


E todos se acham orfãos

(a memória deles é como um trem - você a vê ficando menor e indo embora cada vez mais)

As coisas que você esqueceu te doam as coisas que você não pode esquecer
A história sagra cada sonho teu

Bem, ela disse que foi embora antes da compressa terminar.
Mas esse filhos-da-mãe não sabem quando desistir.

Matilda se pergunta se os marinheiros são aqueles sonhos ou aqueles crentes

Então, apenas feche seus olhos, filho.
E isso não vai doer nem um pouco.

E é o tempo, tempo, tempo.
Há o tempo, tempo, tempo
E o tempo, tempo, tempo, que você ama
É o tempo, tempo, tempo.



E as coisas andam bem ruins para a garota do calendário.
Aqueles garotos pegaram o carro e arrebentaram-se no meio da rua

E quando ela está bem, tira uma lâmina de sua bota e centenas de pombos caem pelos seus pés.

Então... ponha uma vela na janela... E um beijo em sua boca.

Até a louça de fora da janela se lavar com a chuva
Como um estranho com as raíses no seu coração

Pague o homem do violino antes de eu voltar.

é o tempo....




é o tempo...



Well the smart money's on Harlow and the moon is in the streetAnd the shadow boys are breaking all the lawsAnd you're east of East Saint Louis and the wind is making speechesAnd the rain sounds like a round of applauseAnd Napoleon is weeping in a carnival saloonHis invisible fiancee's in the mirrorAnd the band is going home, it's raining hammers, it's raining nailsAnd it's true there's nothing left for him down hereAnd it's time time time, and it's time time timeAnd it's time time time that you loveAnd it's time time timeAnd they all pretend they're orphans and their memory's like a trainYou can see it getting smaller as it pulls awayAnd the things you can't remember tell the things you can't forget That history puts a saint in every dreamWell she said she'd stick around until the bandages came offBut these mama's boys just don't know when to quitAnd Mathilda asks the sailors Are those dreams or are those prayers? So close your eyes, son, and this won't hurt a bitOh it's time time time, and it's time time timeAnd it's time time time that you loveAnd it's time time timeWell things are pretty lousy for a calendar girlThe boys just dive right off the cars and splash into the streetAnd when they're on a roll she pulls a razor from her bootAnd a thousand pigeons fall around her feetSo put a candle in the window and a kiss upon his lips As the dish outside the window fills with rainJust like a stranger with the weeds in your heartAnd pay the fiddler off 'til I come back againOh it's time time time, and it's time time timeAnd it's time time time that you loveAnd it's time time timeAnd it's time time time, and it's time time timeAnd it's time time time that you loveAnd it's time time time



O conceito de Tempo em Tom waits



Essa é uma das letras mais enigmáticas de Tom Waits. Ela deve ser entendida em seu modo próprio de ser, a saber, ela é uma letra que propõe temporalmente um conceito de tempo. Como isso ocorre? Aponto aqui as três formas disso se dar dentro da letra obscura que foi apresentada acima:


1) A estrutura da letra é toda descritiva: os personagens diversos aparecem em seus lugares, fazendo coisas, sofrendo coisas, lidando com coisas... enfim, o verbo (que se distingue do substantivo e do formalismo semântico de uma sentença exatamente por sempre se encaixar em um tempo - desde Aristóteles) é a palavra de ordem das diversas descrições que são praticamente toda a estrutura que compõe a composição.


2) Não só pela forma da estrutura , mas também por seu conteúdo, o tempo é tratado na letra. O tempo é tema de todas as passagens, basta se prestar devida atenção. Algumas talvez nem tanto quanto outras... Mas, se tomadas separadamente, algumas descrições já tem seu sentido dado por um conceito de tempo.


3) A simultâneidade pode ser posta como o ser da letra, e o ser desse conceito de tempo de que falamos. Todas as descrições, independente da forma e do conteúdo, ocorrem simultâneamente no decorrer da música: são vistas do ponto de vista do ponto de vista do tempo.


Todas essas facetas mostram do que trata Tom Waits nessa canção: a passagem do tempo. "Passagem do tempo" já é um termo tautológico - o tempo é passagem. Mas Tom Waits vai ainda mais longe - tempo é passagem de várias coisas ao mesmo tempo. O tempo é a passagem simultânea de toda a realidade (ou ao menos de todo um mundo). Nós conseguimos, como o narrador da canção, notar as diversas manifestações do tempo pelo espaço de nossa realidade, por uma análise existênciária / ôntica de nossa existência fática (essa é pra quem está familiarizado com Hedegger, hehe) num sendo que somos a cada instante. Mas o "tempo mesmo", o tempo que é quase espiritual de tão distante de uma apreensão, o tempo que sempre está presente internamente nas coisas elas mesmas e sempre impossibilita a apreensão lógica da experiencia de tê-las em nossa mãos, o tempo assim visto é o que nos escapa. Por nos escapar, esse tempo é princípio de nossos desejos e argumento final de nosso amor. Pela saudade, pelo extase, pelo tédio, a apatria, famosa apatria de Tom Waits, a melancolia, a nostalgia, são por elas, essas sensações, esses humores que dão o tom de nossa compreensão de mundo, que o tempo se mostra manifesto. E por ele e nele o homem tem, então, sua existência e sua verdade no mundo.


Há de se notar algo interessante. Tom waits cita algumas vezes a chuva nesse texto. Não posso deixar de lado essa informação.

A chuva faz em tom waits sempre uma contagem. O gotejar, pingar, o fluir... são sempre termos medidores, de uma forma não conceitual, da passagem do tempo. Não é que o tempo só se mostra em plenitude com a chuva... Mas a analogia que Tom Waits quis expressar é da qualidade certa para mostrar como a simultaneidade do tempo afeta todos em volta. Afinal, em uma mesma cidade, nos vazos sujos das arterias de uma metrópole, a chuva cai para todos, sempre em constante movimento, tal qual o tempo. A chuva seria, isso sim, uma manifestação inquietante do tempo - seria uma forma do tempo cronológico se revelar em tempo metereológico.

"Até a louça de fora da janela se lavar" - tanto o tempo quanto a chuva vão lavar os pratos.


Ainda há um ponto a se tratar: alterei a tradução do refrão de forma mais livre (drástica) que as outras partes da música. Explico:

"E é o tempo...
Há o tempo...

E o tempo... que você ama , é o tempo."

1 -A primeira frase é literal.
2-A segunda é falsificada... É o tempo, há o tempo... A temporalidade é do ser.

3- A terceira falsifiquei de leve... ela serve, assim, para dar uma conclusão a estrofe do refrão, posicionando o tempo, que existe, que é interior ao ser, como a destinação ambivalente de todos os conteúdos e formas possíveis; o tempo, que é aquilo que existe efetivamente nas coisas, mesmo que não como um ente, é o desejo do homem, "o tempo que você ama", e que se revela, enfim, como nada mais e nada menos do que ele mesmo, o tempo.

Ufa!

10/10/2008

Dirt In The Ground


"Sujeira ... no chão"


Que importa um sonho de amor, ou de mentiras
Estaremos todos no mesmo lugar quando morrermos
seu espírito vai embora sem conhecer seu rosto ou nome
e o vento soprando através de seus ossos é tudo o que resta

E todos seremos poeira no chão
eu disse que todos seremos sujeira na terra
eu digo que seremos todos apenas adubo no solo...



A pena de um abutre, a palavra é escrita com sangue
eu quero saber, se sou o céu ou o pássaro
pois o inferno está transbordando e o paraíso está lotado
estamos acorrentados ao mundo e temos que prosseguir


E o assassino sorria com nervos de pedra

subiu as escadas e a forca rangiu

Os corações todos batiam,

eles estavam pulsando, todos vermelhos

Enquanto ele balançava sobre a multidão, ouvi o carrasco dizer:


Seremos todos excremento no chão

eu disse, seremos todos sujeira no solo


E Caim matou Abel, matou com uma pedra

os céus se abriram e o trovão rugiu
ao longo de um rio de carne,
será que esses ossos secos podem viver??
Um rei ou um mendigo, a resposta que eles darão será:


Seremos todos poeira no solo

Seremos todos sujeira no mesmo chão... Seremos todos apenas poeira pelo chão



[ http://www.youtube.com/watch?v=jm3LEmFFj2g ]


Mendigo, rei, carrasco, executado - só um impulso egoísta nascido do enganador princípio individualizador, que nos retira do caos do mundo sob a proteção apolínea, é que poderia impedir-nos de ver que são todos feitos da mesma coisa, e nenhum destino seria mais justo do que essa mesma coisa espalhada pela multiplicidade dos fenômenos voltar a se encontrar na unidade - a unidade da poeira, da sujeira, de tudo que resta quando não há mais consciência. Onde o torturador e o torturado não conseguem mais se diferenciar.

Hmmm... isso nos leva a um estranho passeio pela sabedoria dos Upanixades... (segundo a interpretação da escola Advaita): o terceiro dos grandes discursos (Mahāvākyas) diz: isto és tu ("tat tvam asi"). Ou seja, tudo aquilo que é visto é o mesmo que aquele que vê. O observador consciente, o si mesmo dele, não é separado de todo o resto, muito menos da realidade última e suprema por trás de tudo (Brahman é consciência, o observador consciente é Brahman, logo, somos todos Brahman). Só uma certa ignorância levaria o "eu" a separar-se do "outro". Mas talvez essa interpretação não seja tão adequada... não acho que Tom Waits enxergava alguma divindade nessa coisa toda. Seremos todos poeira no solo, porque é o que sempre fomos, mas não me parece existir nada de religioso por trás dessa "descoberta". Talvez possamos usar isso para elevar-nos ao patamar dos deuses. Ou podemos simplesmente admitir a essência una por trás de toda a multiplicidade de fenômenos, como Schopenhauer fez ao colocar a Vontade como essência última do mundo, sem nenhuma pretensão de transformar o homem num deus (ou teriam os deuses sido transformados em homens pelos mestres hinduístas? Ou nenhuma das respostas anteriores??), mas apenas constatando o trágico fato de que todos fazem parte da mesma coisa, e dela são igualmente escravos destinados a eternamente querer. Ou, o que me parece mais adequado aqui, podemos ver esse destino comum a todos do ponto de vista materialista, que é meio sem criatividade, mas também serve. Esqueceremos os hinduístas, Schopenhauer, e todo o resto - pois tudo é matéria, e adubo também é matéria.

Mas... hmm... o espírito vai embora sem conhecer rosto ou nome. Isso não é mais materialismo.

De qualquer forma, algumas pessoas acham que terão um destino diferente, que serão algo mais que simples partículas de poeira rolando infinitamente no chão do mundo. É preciso um carrasco pra dizer a verdade terrível (e ao mesmo tempo tranquila) para a multidão irracional que assiste o enforcamento. Nem os que viraram estátuas poderão escapar da decomposição. E os santos só adiaram um pouco o destino de sua porção terrena (até onde se sabe, a única existente fora do campo descontrolado da especulação... será?). Até Aquiles virou pó. Só dentro de nossas cabeças iludidas os ossos dele continuam dançando em torno dos troianos despedaçados. E não há para onde ir... estamos presos no mundo. O céu já está cheio... e o inferno também. Muita gente já foi mandada pra ambos. Talvez não haja mesmo lugar pra onde ir depois da morte. O sentimento de falta de um lar não fica presa à vida finita material. Apatria absoluta!

É, acho que já falei demais. Mas se temos de falar na igualdade diante da morte, lembremos Horácio, cujas palavras exatas eu não me lembro: "A pálida Morte bate imparcialmente nas cabanas dos pobres e nos palácios dos reis".

Ah, e uma imagem pra não ficar tão chato:

10/08/2008

San Diego Serenade

Eu nunca havia notado a manhã... até ter uma noite de insônia.

Não havia visto o sol brilhar... antes de você desligar a luz.

Não via minha cidade natal... até ter ficado longe dela.

Eu nunca escutei a melodia...até precisar da canção.



Eu não havia visto aquela linha branca... até deixar você pra trás.

Nunca precisei de você... até me amarrar de jeito.

Eu nunca te disse "eu te amo"...antes de amaldiçoar você em vão.

Eu nunca senti as cordas do meu coração...até quase ficar louco.



Eu não havia ido a costa leste...até me mudar para o oeste.

Não percebi a a noite enluarada... até ela rebentar do teu peito.*

Nunca havia notado seu coração...até alguém tentar roubá-lo de mim.

Não enxergei suas lágrimas...até elas rolarem pela sua face.





I never saw the morning 'til I stayed up all night

I never saw the sunshine 'til you turned out the lightI

never saw my hometown until I stayed away too long

I never heard the melody, until I needed a song.

I never saw the white line, 'til I was leaving you behind

I never knew I needed you 'til I was caught up in a bind

I never spoke 'I love you' 'til I cursed you in vain,

I never felt my heartstrings until I nearly went insane.

I never saw the east coast 'til I move to the west

I never saw the moonlight until it shone off your breast

I never saw your heart 'til someone tried to steal, tried to steal it away

I never saw your tears until they rolled down your face.


http://br.youtube.com/watch?v=bku4G-PSyH8


Ok,ok... isso é o que alguns conservadores chamariam de "pagodão". Mas vá lá, sem ser brega não dá pra ser feliz, no máximo espirituoso. E algumas passagens são maravilhosas..."I never heard the melody until I need the song"; "I never saw you tears until they rolled down your face", eu não contive-me e chorei.

A idéia geral da "serenata" é a de que as coisas que nos rodeiam se fazem notar quando deslocam-se do seu campo de sentido pré-determinado, quando não atendem ás espectativas que a manualizam e as velam. Está na cara que o "ver", o "notar", "perceber", que estão aqui são diferentes de uma simples capacidade sensorial... de fato, é um "ver" existencial.

A melodia nao aparecia enquanto a música não fez sentido... Quando, de repente, notou-se do que se tratava aquela canção, em sua simplicidade e sua coerência auto-suficiente, então as notas todas se adaptaram aquele novo modo de ser da arte, e tudo se refez nos ouvidos do ouvinte.
E as lágrimas! Não notava as lágrimas enquanto elas não se tornaram explícitas... E elas já estavam lá, legíveis mas esquecidas, sem precisar rolar pelas faces da moça. Tá... é um pagodão divertido, por favor.


Essa é do disco "In the heart os saturday night" (esse aí do lado) de 74, um disco sensacional.
(Queria dizer que tenho uma boina igual a que ele usa na capa desse disco e no vídeo do you tube... mas aí eu ia parecer muito tiete)

Little Drop of Poison

"Um pouquinho de veneno"


Eu gosto da minha cidade com um pouquinho de veneno
ninguém sabe, eles estão se organizando pra enlouquecer
Estou completamente só,
fumo meus amigos até o filtro
mas me sinto bem mais limpo depois da chuva

E ela se foi no outono,
esta é a foto dela na parede
ela sempre teve esse pouquinho de veneno

Será que o Diabo criou o mundo enquanto Deus dormia?
você nunca vai conseguir tirar um desejo de um osso*
outro longo adeus e centenas de marinheiros
Aquele profundo céu azul é minha casa

E ela se foi no outono,
esta é a foto dela na parede
ela sempre teve esse pouquinho de veneno

bem, o rato sabe quando está no meio das doninhas
aqui você relaxa um pouco a cada dia
Bem, eu me lembro de quando um milhão era um milhão
eles sempre arranjam um jeito de fazer você pagar
eles sempre arrumam um jeito de fazer você pagar


--------------------

http://www.youtube.com/watch?v=5xJSJ6UBn0w

--------------------

* "wishbone", ou "furcula"... aquele ossinho dos pássaros em forma de "y". Existe uma tradição de que, se duas pessoas segurarem em cada lado do osso e puxarem, quem ficar com a maior parte tem seu desejo garantido. Acho que Tom Waits não acreditava nessa baboseira.


"Eu gosto da minha cidade com um pouquinho de veneno"... e só ela tinha esse veneno. O veneno tornava a cidade mais interessante, ao que parece. Geralmente as pessoas evitam o veneno. Ou não evitam, mas então o veneno mata elas. Poucos passam a vida com veneno nas veias.

Fumar os amigos até o filtro... Os amigos são igualmente venenosos, mas são aproveitados (seria "aproveitados" a palavra mais apropriada...?) até o final. E acabam. E só resta a solidão envenenada.


"Será que o Diabo criou o mundo enquanto Deus dormia?" - uma visão não muito otimista, à la Schopenhauer. Mas deus nem é tão legal mesmo...




E o profundo céu é a casa. Geralmente o mar é profundo e azul. Ninguém fala em céu profundo. Então... por que não o mar? Deve ser porque o mar tem um fim, um fundo. Uma hora o desconhecido se torna conhecido. Já o céu, não se sabe muito bem aonde vai parar. A não ser que se considere o céu somente como a atmosfera da Terra... mas quem faria uma coisa dessas??? O céu não acaba, se espalha em todas as direções, não pode ser limitado por nenhum horizonte rigoroso, até porque, o mundo é circular. Lugar perfeito pra quem não tem lar. Pra quem ficou só com o veneno e perdeu a fonte dele. Aliás, a alma poderia ser bem melhor descrita como um céu profundo, e não como um mar profundo. Ou... não?


"o rato sabe quando está no meio das doninhas" - sei lá o que significa isso... e nem estou interessado. Gosto mais da parte "eu me lembro de quando um milhão era um milhão, eles sempre arranjam um jeito de fazer você pagar" - um milhão costumava ser só um milhão. Agora é muito mais, pelo que parece. Poderia ser menos também? Hmmm... Eles sempre arrumam uma maneira de fazer você pagar. Seja lá quem forem "eles", eles realmente conseguem fazer a gente pagar. Não sei como explicar isso... mas que eles fazem você pagar, isso eles fazem.

The Ocean Doesn't Want Me

[Hoje,]"o mar não me quer"

[mas...]

(Tom espera)

O oceano não me quer hoje
mas voltarei amanhã pra brincar

e os anjos estranhos(1) me levarão pro fundo de seu mar salgado
os maldosos anjos(1) na minha cabeça
no fundo do infindo azul vinho
abrirei minha cabeça pro meu tempo sair

adoraria afundar...
e ficar, ficar
mas o mar não me quer hoje

vou subir aqui
não acho que vá me machucar
tudo que encontrarão é minha cerveja
e camisa
as ondas estão ficando violentas e o salva-vidas não está
mas o mar não me quer... hoje
hoje, o mar não me quer



------------------


http://www.youtube.com/watch?v=osQPvNcg1j8


------------------------

(1): "Strangels. Like strange angels. Kellesimone said that. So if you have strangels, then you can have braingels. Those are the angels that live in your head." (Tom)

(Braingels=anjos que vivem na sua cabeça/strangels=anjos estranhos)

É... segundo Tom Waits, se podemos ter anjos estranhos, então temos também anjos vivendo em nossas cabeças... por que não?

O mar não me quer... como já dizia o mestre Heidegger, somos oprimidos pelo afastar-se do ente em sua totalidade que nos assedia na estranheza da angústia ... é a experiência do Nada. Nem o mar resta como apoio. Nem o mar, que sempre abraça os solitários navegantes, os desesperados suicidas. Até o engolidor de mundos se recusa a responder ao chamado. Mas... que diabos... quem nunca experimentou o nada em nenhum lugar, que jogue o primeiro ente.


Ah, "Bone Machine" é um álbum genial. E só.





10/07/2008

Come on Up to the House

"Venha para dentro da Casa"


tom waits





Bem, a lua está quebrada


e o céu está rachado



"Venha para dentro da casa" *







As únicas coisas que vem a sua cabeça


São aquelas que você não tem.


"Venha para dentro da casa"


Todas essas lágrimas não vão te fazer bem


Venha para dentro...

Desça dessa cruz, nós podemos usar essa madeira

"Venha para dentro da casa"


REFRAO


Venha para dentro da casa,


Venha para dentro da casa.


"O mundo não é o meu lugar, estou apenas passando por aqui..."


Venha para dentro da casa



Não há luz no fim do túnel,

Não há boas coisas acontecendo



"Venha para dentro da casa"


E você é a soprano principal

Do coral de um drogadão

"Venha para dentro da casa"(mermão)


A vida lhe parece suja, estúpida e curta?

"Venha para dentro da casa".

Os mares estão tempestuosos

E você não vê um porto seguro.


"Venha para dentro da casa"


[REFRAO]

Não há nada no mundo a se fazer...


Você tem que vir para dentro da casa


E você foi esmigalhado pelas forças dentro de você

Venha para dentro da casa


Você está bem no alto

De uma montanha de desgosto


Venha para dentro da casa.

Você sabe que tem de desistir... mas não pode deixar tudo ir

"Venha para dentro da casa."






_________________






http://rapidshare.com/files/151919451/16_-_Come_On_Up_To_The_House.mp3.html


http://br.youtube.com/watch?v=-GugzLSbOQE

(Cifra que eu fiz)
http://cifraclub.terra.com.br/cifras/tom-waits/come-on-up-to-the-house-skmtpk.html


_______________________



* Irons in the fire: varias coisas boas(vantagens) acontecendo ao mesmo tempo. A negativa, então... foi isso aí.



Essa música é do album "Mule Variations" de 1999, da quarta fase (na minha classificação) de Tom Waits. As fases são:

1- Bastard Son of Jazz ("Closing Time", "Small Changes"...)
2- Dark Cabare (Trilogia "Swordfishtrombones" - "Rain Dogs" - "Frank's Wild Years")
3- Evil Plays("The Bone Machine", "The Black Rider")
4- Old Sage ("The Mule variations", "Read Gone")



1)Optei pelo uso de aspas no mote titular pois me parece que ele é mais como um slogan do que um mantra... Tá, eu explico depois.



2)"no irons in the fire"... como eu ia traduzir isso? Deu um trabalhão. Quero agradecer ao judeu que me ajudeu. valeu cadu!



3)Tom Waits metafísico, querendo o outro mundo, a outra vida, a casa que lhe vai dar abrigo e a pátria que lhe vai dar um nome... Tá, eu explico depois.



4)Até, "abrasileirando" os termos, "Come on up to the house" poderia ser, "Suba para casa", no sentido supra-sensível que nessa interpretação o texto tem.











Proposta.

Traduzir loucamente as letras do compositor, cantor e artista norte-americano Tom Waits.

Inferir, nas letras, as reflexões que couberem melhor.

Buscar a apatria, a fragilidade, a solidão, a experiência originária nas letras desse cara.

E treinar o inglês.