"Eu não dou papo pra quem eu não conheço"
Peça em uma cena
Escrita por Tom Waits.
CENA
Tom Waits, em um bar em New Orleans. O balcão está sujo e a casa está fechando. Junto dele, o bartender, já querendo ir embora, alguns poucos bêbados solitários, e uma mulher de cabelo loiro tingido sentada na bancada.
TOM
(para o bartender)
Um "Manhatan", fazendo o favor...
(para uma moça do lado)
Você pode me parar se já tiver ouvido isso antes...
Mas me parece que eu te conheço de algum lugar
Talvez eu esteja enganado
Mas... me lembro de você e de alguém por quem você costumava se importar.
Ah, mas isso foi a muito tempo atrás!
Agora, me diga se você acha que eu deveria me apaixonar por aquela fora de linha ali.
MOÇA
MOÇA
Eu não nasci ontem... além disso, eu não dou papo pra quem eu não conheço.
TOM
Bem, eu não era um dos bandidos quando você me conheceu.
Eu só pensei que não haveria problema...
MOÇA
Ei! Cuide da sua vida! Quem te mandou me encher o saco?
Com essas suas tristíssimas réplicas.
De qualquer jeito, eu não dou papo pra quem eu não conheço.
Sua vida é uma dessas novelinhas furrecas
Essa cidade está cheia de caras como você...
E é claro que você está querendo achar alguém para ocupar o lugar dela.
TOM
E você deve estar lendo minha correspondência
E é amarga assim só por que ele te deixou
E é por isso que está aqui enchendo a cara no bar.
OS DOIS JUNTOS (PENSANDO)
(Só idiotas se apaixonam por perfeitos estranhos...)
MOÇA
Sempre precisa de um estranho para reconhecer outro.
TOM
Talvez nós sejamos os sábios agora.
MOÇA
E rodamos tantas vezes...
TOM
Que não notamos que nós eramos...
OS DOIS
também perfeitos estranhos...
E pouco antes de nos encontrarmos... não eramos mais estranhos um pro outro.
Ah, você não parece mas tão idiota agora...
Fim.
Pequeno Comentário: Os dois são estranhos no sentido de não se adequarem ao normal, na relidade, e não simplesmente ao fato de não terem nunca se vistos, estranhos um para o outro. São estranhos em si.