O dinheiro sagaz está em Harlow e a Lua está na rua.
E um bando de garotos ocultados pelas sombras
está burlando todas as regras.
Você está a esquerda de East Saint Louis...
O vento faz pequenos redemoinhos por onde passa
A chuva soa como os aplausos de uma platéia
Napoleão está chorando no Carnival Saloon, sua noiva invisível aparece com ele dentro do espelho.
A banda está deixando o palco.
É o martelar da chuva em pregos de chuva!
Sim, é verdade, Não há nada mais para ele aqui embaixo.
E é o tempo,tempo, tempo
Há o tempo, tempo, tempo
E o tempo, tempo, o tempo que você ama
É o tempo, tempo, tempo.
E todos se acham orfãos
(a memória deles é como um trem - você a vê ficando menor e indo embora cada vez mais)
As coisas que você esqueceu te doam as coisas que você não pode esquecer
A história sagra cada sonho teu
Bem, ela disse que foi embora antes da compressa terminar.
Mas esse filhos-da-mãe não sabem quando desistir.
Matilda se pergunta se os marinheiros são aqueles sonhos ou aqueles crentes
Então, apenas feche seus olhos, filho.
E isso não vai doer nem um pouco.
E é o tempo, tempo, tempo.
Há o tempo, tempo, tempo
E o tempo, tempo, tempo, que você ama
É o tempo, tempo, tempo.
E as coisas andam bem ruins para a garota do calendário.
Aqueles garotos pegaram o carro e arrebentaram-se no meio da rua
E quando ela está bem, tira uma lâmina de sua bota e centenas de pombos caem pelos seus pés.
Então... ponha uma vela na janela... E um beijo em sua boca.
Até a louça de fora da janela se lavar com a chuva
Como um estranho com as raíses no seu coração
Pague o homem do violino antes de eu voltar.
é o tempo....
é o tempo...
Well the smart money's on Harlow and the moon is in the streetAnd the shadow boys are breaking all the lawsAnd you're east of East Saint Louis and the wind is making speechesAnd the rain sounds like a round of applauseAnd Napoleon is weeping in a carnival saloonHis invisible fiancee's in the mirrorAnd the band is going home, it's raining hammers, it's raining nailsAnd it's true there's nothing left for him down hereAnd it's time time time, and it's time time timeAnd it's time time time that you loveAnd it's time time timeAnd they all pretend they're orphans and their memory's like a trainYou can see it getting smaller as it pulls awayAnd the things you can't remember tell the things you can't forget That history puts a saint in every dreamWell she said she'd stick around until the bandages came offBut these mama's boys just don't know when to quitAnd Mathilda asks the sailors Are those dreams or are those prayers? So close your eyes, son, and this won't hurt a bitOh it's time time time, and it's time time timeAnd it's time time time that you loveAnd it's time time timeWell things are pretty lousy for a calendar girlThe boys just dive right off the cars and splash into the streetAnd when they're on a roll she pulls a razor from her bootAnd a thousand pigeons fall around her feetSo put a candle in the window and a kiss upon his lips As the dish outside the window fills with rainJust like a stranger with the weeds in your heartAnd pay the fiddler off 'til I come back againOh it's time time time, and it's time time timeAnd it's time time time that you loveAnd it's time time timeAnd it's time time time, and it's time time timeAnd it's time time time that you loveAnd it's time time time
O conceito de Tempo em Tom waits
Essa é uma das letras mais enigmáticas de Tom Waits. Ela deve ser entendida em seu modo próprio de ser, a saber, ela é uma letra que propõe temporalmente um conceito de tempo. Como isso ocorre? Aponto aqui as três formas disso se dar dentro da letra obscura que foi apresentada acima:
1) A estrutura da letra é toda descritiva: os personagens diversos aparecem em seus lugares, fazendo coisas, sofrendo coisas, lidando com coisas... enfim, o verbo (que se distingue do substantivo e do formalismo semântico de uma sentença exatamente por sempre se encaixar em um tempo - desde Aristóteles) é a palavra de ordem das diversas descrições que são praticamente toda a estrutura que compõe a composição.
2) Não só pela forma da estrutura , mas também por seu conteúdo, o tempo é tratado na letra. O tempo é tema de todas as passagens, basta se prestar devida atenção. Algumas talvez nem tanto quanto outras... Mas, se tomadas separadamente, algumas descrições já tem seu sentido dado por um conceito de tempo.
3) A simultâneidade pode ser posta como o ser da letra, e o ser desse conceito de tempo de que falamos. Todas as descrições, independente da forma e do conteúdo, ocorrem simultâneamente no decorrer da música: são vistas do ponto de vista do ponto de vista do tempo.
Todas essas facetas mostram do que trata Tom Waits nessa canção: a passagem do tempo. "Passagem do tempo" já é um termo tautológico - o tempo é passagem. Mas Tom Waits vai ainda mais longe - tempo é passagem de várias coisas ao mesmo tempo. O tempo é a passagem simultânea de toda a realidade (ou ao menos de todo um mundo). Nós conseguimos, como o narrador da canção, notar as diversas manifestações do tempo pelo espaço de nossa realidade, por uma análise existênciária / ôntica de nossa existência fática (essa é pra quem está familiarizado com Hedegger, hehe) num sendo que somos a cada instante. Mas o "tempo mesmo", o tempo que é quase espiritual de tão distante de uma apreensão, o tempo que sempre está presente internamente nas coisas elas mesmas e sempre impossibilita a apreensão lógica da experiencia de tê-las em nossa mãos, o tempo assim visto é o que nos escapa. Por nos escapar, esse tempo é princípio de nossos desejos e argumento final de nosso amor. Pela saudade, pelo extase, pelo tédio, a apatria, famosa apatria de Tom Waits, a melancolia, a nostalgia, são por elas, essas sensações, esses humores que dão o tom de nossa compreensão de mundo, que o tempo se mostra manifesto. E por ele e nele o homem tem, então, sua existência e sua verdade no mundo.
Há de se notar algo interessante. Tom waits cita algumas vezes a chuva nesse texto. Não posso deixar de lado essa informação.
A chuva faz em tom waits sempre uma contagem. O gotejar, pingar, o fluir... são sempre termos medidores, de uma forma não conceitual, da passagem do tempo. Não é que o tempo só se mostra em plenitude com a chuva... Mas a analogia que Tom Waits quis expressar é da qualidade certa para mostrar como a simultaneidade do tempo afeta todos em volta. Afinal, em uma mesma cidade, nos vazos sujos das arterias de uma metrópole, a chuva cai para todos, sempre em constante movimento, tal qual o tempo. A chuva seria, isso sim, uma manifestação inquietante do tempo - seria uma forma do tempo cronológico se revelar em tempo metereológico.
"Até a louça de fora da janela se lavar" - tanto o tempo quanto a chuva vão lavar os pratos.
Ainda há um ponto a se tratar: alterei a tradução do refrão de forma mais livre (drástica) que as outras partes da música. Explico:
"E é o tempo...
Há o tempo...
E o tempo... que você ama , é o tempo."
1 -A primeira frase é literal.
2-A segunda é falsificada... É o tempo, há o tempo... A temporalidade é do ser.
3- A terceira falsifiquei de leve... ela serve, assim, para dar uma conclusão a estrofe do refrão, posicionando o tempo, que existe, que é interior ao ser, como a destinação ambivalente de todos os conteúdos e formas possíveis; o tempo, que é aquilo que existe efetivamente nas coisas, mesmo que não como um ente, é o desejo do homem, "o tempo que você ama", e que se revela, enfim, como nada mais e nada menos do que ele mesmo, o tempo.
Ufa!