A lua está quebrada


e o céu está rachado


Suba para dentro da CASA

10/10/2008

Dirt In The Ground


"Sujeira ... no chão"


Que importa um sonho de amor, ou de mentiras
Estaremos todos no mesmo lugar quando morrermos
seu espírito vai embora sem conhecer seu rosto ou nome
e o vento soprando através de seus ossos é tudo o que resta

E todos seremos poeira no chão
eu disse que todos seremos sujeira na terra
eu digo que seremos todos apenas adubo no solo...



A pena de um abutre, a palavra é escrita com sangue
eu quero saber, se sou o céu ou o pássaro
pois o inferno está transbordando e o paraíso está lotado
estamos acorrentados ao mundo e temos que prosseguir


E o assassino sorria com nervos de pedra

subiu as escadas e a forca rangiu

Os corações todos batiam,

eles estavam pulsando, todos vermelhos

Enquanto ele balançava sobre a multidão, ouvi o carrasco dizer:


Seremos todos excremento no chão

eu disse, seremos todos sujeira no solo


E Caim matou Abel, matou com uma pedra

os céus se abriram e o trovão rugiu
ao longo de um rio de carne,
será que esses ossos secos podem viver??
Um rei ou um mendigo, a resposta que eles darão será:


Seremos todos poeira no solo

Seremos todos sujeira no mesmo chão... Seremos todos apenas poeira pelo chão



[ http://www.youtube.com/watch?v=jm3LEmFFj2g ]


Mendigo, rei, carrasco, executado - só um impulso egoísta nascido do enganador princípio individualizador, que nos retira do caos do mundo sob a proteção apolínea, é que poderia impedir-nos de ver que são todos feitos da mesma coisa, e nenhum destino seria mais justo do que essa mesma coisa espalhada pela multiplicidade dos fenômenos voltar a se encontrar na unidade - a unidade da poeira, da sujeira, de tudo que resta quando não há mais consciência. Onde o torturador e o torturado não conseguem mais se diferenciar.

Hmmm... isso nos leva a um estranho passeio pela sabedoria dos Upanixades... (segundo a interpretação da escola Advaita): o terceiro dos grandes discursos (Mahāvākyas) diz: isto és tu ("tat tvam asi"). Ou seja, tudo aquilo que é visto é o mesmo que aquele que vê. O observador consciente, o si mesmo dele, não é separado de todo o resto, muito menos da realidade última e suprema por trás de tudo (Brahman é consciência, o observador consciente é Brahman, logo, somos todos Brahman). Só uma certa ignorância levaria o "eu" a separar-se do "outro". Mas talvez essa interpretação não seja tão adequada... não acho que Tom Waits enxergava alguma divindade nessa coisa toda. Seremos todos poeira no solo, porque é o que sempre fomos, mas não me parece existir nada de religioso por trás dessa "descoberta". Talvez possamos usar isso para elevar-nos ao patamar dos deuses. Ou podemos simplesmente admitir a essência una por trás de toda a multiplicidade de fenômenos, como Schopenhauer fez ao colocar a Vontade como essência última do mundo, sem nenhuma pretensão de transformar o homem num deus (ou teriam os deuses sido transformados em homens pelos mestres hinduístas? Ou nenhuma das respostas anteriores??), mas apenas constatando o trágico fato de que todos fazem parte da mesma coisa, e dela são igualmente escravos destinados a eternamente querer. Ou, o que me parece mais adequado aqui, podemos ver esse destino comum a todos do ponto de vista materialista, que é meio sem criatividade, mas também serve. Esqueceremos os hinduístas, Schopenhauer, e todo o resto - pois tudo é matéria, e adubo também é matéria.

Mas... hmm... o espírito vai embora sem conhecer rosto ou nome. Isso não é mais materialismo.

De qualquer forma, algumas pessoas acham que terão um destino diferente, que serão algo mais que simples partículas de poeira rolando infinitamente no chão do mundo. É preciso um carrasco pra dizer a verdade terrível (e ao mesmo tempo tranquila) para a multidão irracional que assiste o enforcamento. Nem os que viraram estátuas poderão escapar da decomposição. E os santos só adiaram um pouco o destino de sua porção terrena (até onde se sabe, a única existente fora do campo descontrolado da especulação... será?). Até Aquiles virou pó. Só dentro de nossas cabeças iludidas os ossos dele continuam dançando em torno dos troianos despedaçados. E não há para onde ir... estamos presos no mundo. O céu já está cheio... e o inferno também. Muita gente já foi mandada pra ambos. Talvez não haja mesmo lugar pra onde ir depois da morte. O sentimento de falta de um lar não fica presa à vida finita material. Apatria absoluta!

É, acho que já falei demais. Mas se temos de falar na igualdade diante da morte, lembremos Horácio, cujas palavras exatas eu não me lembro: "A pálida Morte bate imparcialmente nas cabanas dos pobres e nos palácios dos reis".

Ah, e uma imagem pra não ficar tão chato:

3 comentários:

Anônimo disse...

rolando... no chão.

Anônimo disse...

Essa música é de que album? Em Come on Up to the house ele já é velho sábio, existe uma "casa" que não está nesse mundo e que é o verdadeiro lar dele. Coé. Aqui ele é um materialista, "somos só..apenas...", mas ao mesmo tempo uma grande prepotência de dizer isso, e depois ele já vê que, mesmo com o desesperador da vida frente ao absoluto, o homem pode ter sua casa e seu lugar, mesmo que enquanto promessa. Virou kierkegariano (forçei a barrra)

GALDINO, V. disse...

é do Bone Machine...

Sim, sim, um pouco materialista... mas talvez nem tanto
a casa metafísica dele parece estar em processo de construção... em outra música desse álbum ele repete esse negócio do céu estar cheio. É como se já soubesse pelo menos onde não está seu lar